A Adaga
Após a tempestade vem a calmaria. Os anos se passaram a briga esfriou, não poderia ter sido diferente, mais do que Cachorro Velho e Res. Cachorro Recalcado só o confronto físico, algo que jamais Gildo de Freitas e Teixeirinha fariam, portanto o silencio foi a maneira encontrada se estabelecer um armistício, tudo em nome dos bons tempos dos anos 50/60 quando mais do que amigos eles eram irmãos.
Mas em 1979, Teixeirinha grava a música “Adaga de ése” que era do álbum “Vinte anos de Gloria”.
Fiquem com a letra:
ADAGA DE ÉSE
-E agora é vez da adaga de S !
Conheço um valente lá da minha terra
Que diz que não erra um golpe de adaga
Que ataca o lagarto na boca da toca
Briga e provoca diz quando se embriaga
Diz que quebra pedra e destrói montanha
E que não apanha nas brigas que faz
Duela comigo me fez a proposta
E lá vai a resposta e volta pra trás
Mandei afiar minha adaga de S
Essas que estremece no pulso do macho
E vou te mostrar que eu entendo da esgrima
Destorço por cima te corto por baixo
-Esse bracinho é que é ligeiro índio velho!
Marca o dia, a hora e o lugar da briga
Não enche a barriga com as tuas cachaças
Faremos a luta de homem perfeito
Na raça no peito, no peito na raça
Leva a tua adaga que eu levo a minha
E a nossa linha pode ser a tape
Não quero bebida agora te conto
Se bater num tonto passo por covarde
Tu vai conhecer o que tu não conhece
Adaga de S sempre me consagra
Vou dar te uma surra mostrar que eu sou guapo
E operar o papo deste guaca magra
-Isto é a coisa mais fácil que tem !
Se eu perder a briga não volto pra casa
Aí tu me arrasa vergonha da cara
Mas se eu ganhar como tudo requer
A minha mulher vai te surrar de vara
Também vou chamar a tua chinoca
Pra ver as pipocas da adaga que arromba
Com esta coitada até te abandona
Não vai ser mais dona de cara de tomba
Depois minha adaga vou por na parede
Me deito na rede o dia amanhece
Esqueça de mim e jamais me aborreça
Só nunca te esqueça da adaga de S
-Não esquecer porque as marcas vão ficar no lombo pra toda vida!
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Teixeirinha estava de volta com suas armas pronto para mais um desafio, e mais uma vez o alvo era Gildo de Freitas. E disso a razões para crer:
“Diz que quebra pedra e destrói montanha
E que não apanha nas brigas que faz
Duela comigo me fez a proposta”
Quem mais poderia ser se não Gildo de Freitas?
No mais na musica Teixeirinha relata de suas proezas em cima do valente
Talvez nesse silencio que acontecera antes da música adaga de esse tenha ocorrido a reconciliação e naturalmente as trovas a distancia em alto nível estavam de volta e se é para trovar e brigar, Gildo de Freitas não deixou o compadre Teixeira sem resposta.
Resposta da Adaga de Esse
Abre o olho ai nanico que ai vou eu de novo!
Com aquela lata enferrujada
Se enche de pedregulho
E solta ladeira abaixo
Ela também faz barulho
Só comigo tu não faz
Que eu não vou no teu embrulho
Eu não arroto grandezas
Sou o cantor da pobreza
E tenho raiva de orgulho
Tu és gaúcho fingido
Eu já te conheço bem
Tu diz que faz mais não faz
Tu diz que tem mais não têm
Tu diz que brigas com dez
Tu não brigas com ninguém
Eu te tenho por pouca fé
Tu diz que é guapo mas não é
Tu diz que vem mais não vem
-Héhé e é melhor ficar por ai
tu anda meio enferrujado rapaz!
Colega se eu te comprar
Pelo teu preço real
E vender pelo que pensa
Tua fraqueza mental
Que vales cem vezes mais
Eu arrumo capital
Depois se termina o choro
Vendendo a preço de ouro
E comprando por metade
-Aí vem a parte lucrativa, mas não é nada nanico!
Com isso eu não perco tempo
Eu quero é judiar de ti
Quando estiveres num circo
Não vai faltar um guri
Que grite assim deste jeito
Nanico escapa daqui
Enquanto tu tens saúde
Que aqui não tem quem te ajude
E o Gildo vem vindo ai
-Héhé, eu vou chegando!
É assim que eu faço gato
Atravessar o banhado
Perder o medo da água
E cruzar o rio a nado
E se ele tiver sorte
De não morrer afogado
Eu vou dar uma de lontra
Quando ele sair de encontro
Esperando do outro lado
-Volta pra trás com essa adaga nanico
tu vai vender isso!
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E o Gildo fez e abusou do uso da expressão “nanico” que deixava Teixeirinha furioso, afinal sabemos o que significa essa palavra principalmente no tom que Gildo usava contra o seu compadre Teixeira.
Mas o tom agressivo que fora usado pelos dois no capitulo anterior agora dava lugar a um tom mais amigável, quase indo em direção a comedia, mostrando que os tempos das brigas de verdade ficaram para trás e que agora era hora de novamente retornar as trovas a distancia mas de forma respeitável, sem atingir a honra de ninguém. E dessa forma o sucesso das músicas nas rádios e as vendas de lps eram enormes.
Entretanto mesmo com a reconciliação, o relacionamento nunca mais foi o mesmo, ainda ficou o distanciamento devido a filosofia de vida de ambos, completamente oposta em relação ao modo de vida. Sucesso ambos faziam, mas Teixeirinha era um homem preparado e ambicioso quanto a sucesso e negócios, tinha o tino para dirigir sua carreira com cantor de sucesso, já Gildo de Freitas queria o suficiente para sustentar sua família e manter sua vida sem luxo, sempre em volta das lidas rural. Não bastasse isso apartir de 1979 as estadas em hospitais tornou-se freqüente para Gildo de Freitas atrapalhando sua carreira e gravações de novos LPs.
Em novembro chega a penúltima parte da serie Gildo de Freitas Vs. Teixeirinha e estamos próximos de Dezembro quando concluirei essa serie com muitas surpresas e novos documentos que retratam essa relação fraternal e em muitas vezes nada amistosa entre o Rei dos trovadores e o Rei do Disco.
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