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sábado, 3 de outubro de 2009

Gildo de Freitas Vs. Teixeirinha X

A Adaga


Após a tempestade vem a calmaria. Os anos se passaram a briga esfriou, não poderia ter sido diferente, mais do que Cachorro Velho e Res. Cachorro Recalcado só o confronto físico, algo que jamais Gildo de Freitas e Teixeirinha fariam, portanto o silencio foi a maneira encontrada se estabelecer um armistício, tudo em nome dos bons tempos dos anos 50/60 quando mais do que amigos eles eram irmãos.


Mas em 1979, Teixeirinha grava a música “Adaga de ése” que era do álbum “Vinte anos de Gloria”.


Fiquem com a letra:


ADAGA DE ÉSE


-E agora é vez da adaga de S !

Conheço um valente lá da minha terra

Que diz que não erra um golpe de adaga

Que ataca o lagarto na boca da toca

Briga e provoca diz quando se embriaga

Diz que quebra pedra e destrói montanha

E que não apanha nas brigas que faz

Duela comigo me fez a proposta

E lá vai a resposta e volta pra trás

Mandei afiar minha adaga de S

Essas que estremece no pulso do macho

E vou te mostrar que eu entendo da esgrima

Destorço por cima te corto por baixo

-Esse bracinho é que é ligeiro índio velho!


Marca o dia, a hora e o lugar da briga

Não enche a barriga com as tuas cachaças

Faremos a luta de homem perfeito

Na raça no peito, no peito na raça

Leva a tua adaga que eu levo a minha

E a nossa linha pode ser a tape

Não quero bebida agora te conto

Se bater num tonto passo por covarde

Tu vai conhecer o que tu não conhece

Adaga de S sempre me consagra

Vou dar te uma surra mostrar que eu sou guapo

E operar o papo deste guaca magra

-Isto é a coisa mais fácil que tem !


Se eu perder a briga não volto pra casa

Aí tu me arrasa vergonha da cara

Mas se eu ganhar como tudo requer

A minha mulher vai te surrar de vara

Também vou chamar a tua chinoca

Pra ver as pipocas da adaga que arromba

Com esta coitada até te abandona

Não vai ser mais dona de cara de tomba

Depois minha adaga vou por na parede

Me deito na rede o dia amanhece

Esqueça de mim e jamais me aborreça

Só nunca te esqueça da adaga de S

-Não esquecer porque as marcas vão ficar no lombo pra toda vida!


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Teixeirinha estava de volta com suas armas pronto para mais um desafio, e mais uma vez o alvo era Gildo de Freitas. E disso a razões para crer:


“Diz que quebra pedra e destrói montanha

E que não apanha nas brigas que faz

Duela comigo me fez a proposta”


Quem mais poderia ser se não Gildo de Freitas?


No mais na musica Teixeirinha relata de suas proezas em cima do valente

Talvez nesse silencio que acontecera antes da música adaga de esse tenha ocorrido a reconciliação e naturalmente as trovas a distancia em alto nível estavam de volta e se é para trovar e brigar, Gildo de Freitas não deixou o compadre Teixeira sem resposta.


Resposta da Adaga de Esse


Abre o olho ai nanico que ai vou eu de novo!


Com aquela lata enferrujada

Se enche de pedregulho

E solta ladeira abaixo

Ela também faz barulho

Só comigo tu não faz

Que eu não vou no teu embrulho

Eu não arroto grandezas

Sou o cantor da pobreza

E tenho raiva de orgulho


Tu és gaúcho fingido

Eu já te conheço bem

Tu diz que faz mais não faz

Tu diz que tem mais não têm

Tu diz que brigas com dez

Tu não brigas com ninguém

Eu te tenho por pouca fé

Tu diz que é guapo mas não é

Tu diz que vem mais não vem

-Héhé e é melhor ficar por ai

tu anda meio enferrujado rapaz!


Colega se eu te comprar

Pelo teu preço real

E vender pelo que pensa

Tua fraqueza mental

Que vales cem vezes mais

Eu arrumo capital

Depois se termina o choro

Vendendo a preço de ouro

E comprando por metade

-Aí vem a parte lucrativa, mas não é nada nanico!


Com isso eu não perco tempo

Eu quero é judiar de ti

Quando estiveres num circo

Não vai faltar um guri

Que grite assim deste jeito

Nanico escapa daqui

Enquanto tu tens saúde

Que aqui não tem quem te ajude

E o Gildo vem vindo ai

-Héhé, eu vou chegando!


É assim que eu faço gato

Atravessar o banhado

Perder o medo da água

E cruzar o rio a nado

E se ele tiver sorte

De não morrer afogado

Eu vou dar uma de lontra

Quando ele sair de encontro

Esperando do outro lado

-Volta pra trás com essa adaga nanico

tu vai vender isso!


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E o Gildo fez e abusou do uso da expressão “nanico” que deixava Teixeirinha furioso, afinal sabemos o que significa essa palavra principalmente no tom que Gildo usava contra o seu compadre Teixeira.


Mas o tom agressivo que fora usado pelos dois no capitulo anterior agora dava lugar a um tom mais amigável, quase indo em direção a comedia, mostrando que os tempos das brigas de verdade ficaram para trás e que agora era hora de novamente retornar as trovas a distancia mas de forma respeitável, sem atingir a honra de ninguém. E dessa forma o sucesso das músicas nas rádios e as vendas de lps eram enormes.


Entretanto mesmo com a reconciliação, o relacionamento nunca mais foi o mesmo, ainda ficou o distanciamento devido a filosofia de vida de ambos, completamente oposta em relação ao modo de vida. Sucesso ambos faziam, mas Teixeirinha era um homem preparado e ambicioso quanto a sucesso e negócios, tinha o tino para dirigir sua carreira com cantor de sucesso, já Gildo de Freitas queria o suficiente para sustentar sua família e manter sua vida sem luxo, sempre em volta das lidas rural. Não bastasse isso apartir de 1979 as estadas em hospitais tornou-se freqüente para Gildo de Freitas atrapalhando sua carreira e gravações de novos LPs.


Em novembro chega a penúltima parte da serie Gildo de Freitas Vs. Teixeirinha e estamos próximos de Dezembro quando concluirei essa serie com muitas surpresas e novos documentos que retratam essa relação fraternal e em muitas vezes nada amistosa entre o Rei dos trovadores e o Rei do Disco.


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