Dando seguimento a serie de artigos sobre a rivalidade entre Gildo de Freitas e Teixeirinha chegamos ao penúltimo capitulo dessa saga.
Ultimas escaramuças
Pois chegamos as ultimas musicas que fazem parte da chamada ‘trova a distancia’ entre Gildo de Freitas e Teixeirinha.
Gildo de Freitas entre os anos de 1981 e 1982 a maior parte do tempo internado em hospitais, mesmo assim conseguiu gravar aquele que seria seu ultimo Long Play que foi Figueira Amiga. Nesse Lp ele dava seqüência a serie de provocações que fazia a Teixeirinha com a musica Que Negrinha Boa.
Fiquem com a letra:
Compositor: Gildo de Freitas
Álbum: Figueira Amiga
Ano: 1982
Que Negrinha Boa
O povo já descobriu
Que eu gosto da Gabriela
Pegaram nós se beijando
Numa festa na capela
Ela é louquinha por mim
E eu louquinho por ela
Por isso me resolvi
Juntar os trapos com ela
Tenho medo é de um artista
Que anda de olho nela
-Olho Grande!
De noite quando eu me deito
Ao lado da minha bela
Eu fecho a porta com a chave
Ponho a tranca e a tramela
O gavião é perigoso
Mete o bico na janela
Tenho medo é de um artista
Que anda de olho nela
Ela deita no meu braço
Eu durmo nos braços dela
Ela agarradinha em mim
E eu agarradinho nela
Bem magrinha e bem pretinha
Negra boa de costela
Tenho medo é de um artista
Que anda de olho nela
Não tem prata nem brilhante
Que pague a minha donzela
Francamente eu até tenho
Bastante ciúmes dela
Eu agora vou pra casa
Pra cuidar da Gabriela
Por que já tem outro artista
Que anda de olho nela
-Quem será?
Eu cuido da minha negra
Dou sopinha na tigela
Dou café, almoço e janta
Mingauzinho com canela
Tiro o pó todo da casa
Lavo os pratos e a panela
Não precisa trabalhar
Eu faço tudo por ela
Vou bater no Teixeirinha
Por andar de olho nela
-Não mete a mão na sopa quente, nanico!
-Fecha a gaita Arlindo!
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Alguns especialistas dizem que Gildo de Freitas provocou Teixeirinha através da Mary Terezinha já que nessa época o relacionamento entre eles já estava conflituoso. Mas não há forte indícios na letra da música, entretanto Gildo encerra com grande estilo sua guerra musica contra Teixeirinha. Melhor do que ler é ouvir:
De volta as armas...
Ainda em 1982, Teixeirinha resolve responder duas provocações numa só musica, no Lp Que Droga de Vida encontramos a música Dois Quarenta e Cinco. Muitos “especialistas” negavam que essa música era para Gildo de Freitas, porque em nenhum momento parecia claro que o alvo dessa música era o Rei dos Trovadores. Mas isso tem uma explicação, a letra que estou postando abaixo é original do Lp de 1982 onde consta uma introdução falada onde claramente Teixeirinha responde “Que negrinha Boa” do Gildo de Freitas.
Não sei por qual motivo nas remasterizações que foram lançadas em cds nos últimos anos as gravadoras simplesmente apagaram esse trecho descaracterizando o contexto de uma época, isso prejudicou o entendimento de muitos que não compreendiam essa musica. Mas o Blog Gildo de Freitas mais uma vez de forma inédita resgata mais essa perola da musica gaúcha, fiquem com e letra:
Dois Quarenta e Cinco
-Háhaha, o Gildo Freita inventou de me
mandar as mulheres todas pra mim, também
o velho não pode mais!
Conheço um sujeito
Que é fora do trilho
Que é bom no gatilho
Ele anda dizendo
Que puxa primeiro
E na hora da briga
Que a bala castiga
E não fica devendo
Eu queria ele
Prá meu companheiro
Prá no entrevero
Nós brigar de dois
Mas ele invocou-se
Com a adaga de “s”
E diz que aparece
Prá levar depois
-Mas quem é tu para levar a minha adaga
traz mais uns dois junto contigo.
Pois traz teu revolver
Que a adaga não vai
Ganhei do meu pai
Eu falo e não brinco
Não é só com ela
Que eu pensei brigar
Vamos nos pegar
Com dois quarenta e cinco
Ouvi o teu papo
Que puxas primeiro
Que é o mais ligeiro
Pois vem que eu te espero
Se eu for o mais rápido
Tu morre e não fala
Porque a minha bala
Boto aonde eu quero
-Nunca errei um tiro na minha vida
Vai cair da mão
O teu quarenta e cinco
Em cima do zinco
Da casa de alguém
O teu apelido
Vai ser mão furada
Prá outra pegada
Nunca mais tu vem
Porque tua mão
Vai perder a destreza
Não faz mais proeza
Nem prá gafanhoto
De ti me falaram
E não é mentira
Que tu só atira
É com o lado canhoto
-E pra mim não tem lado não o
cara, é dum jeito ou do outro
é pela esquerda ou pela direita
vem, vem que te espero.
Agora tu pensas
Se vem ou não vem
Por mal ou por bem
Será bem aceito
Eu estou aqui
E não sou assustado
Prá mim não tem lado
Esquerdo ou direito
Pense bem no caso
Que tu me propõe
Talves te dispõe
A pensar diferente
Se vier e na certa
Meu baú se infarta
Com mais uma carta
De um cara valente
- Agarra essa petiço barrigudo!
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Mais apelidos....
Teixeirinha agora arruma mais um apelido para Gildo de Freitas, além de petiço, agora era barrigudo. Mas para muitos fãs de Gildo de Freitas, nessa vez Teixeirinha foi desleal de mais, já que Gildo de Freitas em seus últimos anos de vida de fato estava barrigudo, mas não por ser obeso, mas era culpa de suas enfermidades que o levava a passar vários meses em hospitais, e Teixeirinha usar isso para atacar o Gildo, poderia se interpretado como covardia. Mas a mais elementos que provam que essa música era para o Gildo. Teixeirinha fala que o desafiante era canhoto, fala em guardar a carta, e de fato Gildo era canhoto e costumava mandar cartas ao Teixeirinha, como já ouvimos na musica “Resposta da Facão Três Listras”. Por isso não há razões em não acreditar que “Dois Quarenta e Cinco” era dedicado a Gildo de Freitas e foi essa a ultima provocação que Gildo de Freitas ouviu nos discos do Teixeirinha, já que naquele mesmo ano de 1982, na madrugada de 4 de dezembro, Gildo de Freitas deixava a vida para se tornar uma lenda da música e da trova Rio Grandense.
Em dezembro encerraremos a serie Gildo de Freitas, colocando um ponto final nessa briga, pelo menos aqui no Blog Gildo de Freitas.
Edit: 13/12/09
O Amigo Jorge Fraga enviou-me a seguinte letra:
Tanto a pé como a cavalo
Puxei o pingo tubiano
E botei o sirigote
E como quem não quer nada
Fui saindo meio a trote
A procura de um fandango
Ou baile de cola fina
Pra dançar com alguma china
Vaneira, rancheira e chote
Ninguém me guenta
Quando entro no embalo
Eu sou gaúcho
Tanto a pé como a cavalo
Peguei a estrada real
Depois dobrei a direita
E nunca tinha cruzado
Em estrada tão estreita
Quando descobri o baile
Fiquei cheio de alegria
Escutei a cantoria
Do Velho Gildo de Freitas
Ninguém me guenta
Quando entro no embalo
Eu sou gaúcho
Tanto a pé como a cavalo
A gabriela estava lá
Negra boa de costela
Paguei entrada e entrei
E dancei com a Gabriela
Gastei tudo o meu dinheiro
Bebendo junto com ela
E pra não passar vergonha
E continuar farreando
Vendi o pingo tubiano
A troco de bagatela
Ninguém me guenta
Quando entro no embalo
Eu sou gaúcho
Tanto a pé como a cavalo
Quando terminou o baile
Todo mundo foi embora
Com os arreios nas costas
Fui saindo estrada a fora
Com a cara desencharrida
Pesando na Gabriela
Sem cavalo e sem donzela
To vivendo até agora
Ninguém me guenta
Quando entro no embalo
Eu sou gaúcho
Tanto a pé como a cavalo
Essa música é do Velho Milongueiro, lançada na mesma época de "Que Negrinha Boa".
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