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sábado, 4 de outubro de 2008

Pajada e Trova brotam do mesmo tronco

Confiram exemplos de trova
Gildo de Freitas x Luiz Muller
Gildo de Freitas X Tereco de Oliveira

Agora fiquem com o excelente artigo do Paulo de Freitas Mendonça

Pajador contemporâneo


Os pajadores brasileiros atuantes no momento vivem em grandes cidades, embora a maioria seja de pequenas cidades do interior do Rio Grande do Sul. Geograficamente os pajadores representam diversas regiões do Estado. Encaminham-se para a pajada por influência de Jayme Caetano Braun. Alguns vão beber noutras fontes e aprimorar seus conhecimentos.

O Dia do Pajador Gaúcho, os festivais e concursos dão maior difusão ao canto pajadoril e ao surgimento de novos valores, que se espelham no trabalho de Braun e dos seus seguidores.

Trovador contemporâneo

Os trovadores gaúchos atuantes no momento vivem em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Alguns fora do Estado, porém representam o Pago. Geograficamente habitam todo o Estado do Rio Grande do Sul. Encaminham-se para a trova por influência de Gildo de Freitas e seus seguidores.

O repentista histórico é o andejo ou gaudério que surge na origem do gaúcho (ou el gaucho). Cruza os campos em busca de lonjuras, quando no sul da América as fronteiras são imprecisas. Até que provem ao contrário, justifica-se sua presença em terras, hoje brasileiras, do mesmo jeito e no mesmo período em que, em uruguaias, argentinas e chilenas. Da mesma forma que afirma o pesquisador argentino Abel Zabala, que o pajador constitui o arquétipo da identidade rio-pratense, pode-se dizer que o pajador é a própria identidade cultural do gaúcho brasileiro, muito bem retratada no personagem Capitão Rodrigo de Érico Veríssimo, em O Tempo e o Vento.

Um dos indícios de que não se pode impor uma fronteira para o pajador é a semelhança cultural entre gaúchos brasileiros, uruguaios e argentinos. O próprio Martin Fierro, uma referência do cantor gaúcho, andejo e pajadoresco, escrito por José Hernandez nestas três nações, não identifica diferenças. Sabe-se que no ciclo do gado chimarrão o sul da América é disputado por índios, espanhóis e portugueses. Os cruzadores de campos vivem a cantar seus cotidianos e passam a improvisar aleatoriamente suas vivências, tornando-se os primeiros jornalistas xucros destes campos largos povoados por analfabetos.

Enquanto alguns intelectuais procuram definir as fronteiras culturais, há outros que buscam derrubá-las e encontrar as semelhanças no sul do continente. O Brasil é um país de apenas quinhentos anos (e o Rio Grande, de trezentos). Numa análise radical não encontra-se uma cultura delineada e própria. Tudo está em formação. A busca das raízes do improviso vai mais longe. "En su ascendência lírica aparecen rapsodas y aedas griego, bardos celtas, trovadores y troveros provenzales, segriers galaico-portugueses..." afirma o escritor e pesquisador argentino Abel Zabala, uma das autoridades do canto improvisado daquele país.

A pajadora argentina Marta Suint define a origem do pajador em seu livro Guía Practica Para el Conocimiento del Payador como anterior aos tempos de Homero, considerado o primeiro poeta grego, e complementa: "Como antecedente literal, aparecen en las Eglogas de Teócrito y Virgilio, contrapuntos pastoriles de la poesía provenzal, en la mitología griega (contrapunto entre Apolo y Pan) y en lo que sería el cimiento de la cultura Islamita. Las tribus árabes se estabelecieron en el desierto, en la península delimitada por el Mar Rojo, el Océano Indico y el Golfo Pérsico, decenas de siglos antes de Cristo. Por entonces había dos classes de improvisadores: los sayyid y los saalik (que es plural de shuluk, que quiere decir cantor, vagabundo y salteador)."

O folclorista brasileiro Luis da Câmara Cascudo segue pela mesma linha de pensamento em seu livro Vaqueiros e Cantadores para definir o cantador do nordeste: "Quem é o cantador? É o descendente de Aedo da Grécia, do rapsodo ambulante dos Helenos, do Glee-man anglo-saxão, dos Moganís e metrís árabes, do velálica da Índia, das runoias da Finlândia, dos bardos armoricanos, dos scalcos da Escandinávia, dos menestréis, trovadores, mestres-cantadores da idade-Média. Canta ele, como há séculos, a história da região e a gesta rude do homem. É a epea grega, o barditus germano, a gesta franca, a estória portuguesa, a xacara recordadora. É o registro, a memória viva, o Olám dos etruscos...".

Do mesmo tronco brotam os repentistas do Rio Grande do Sul, tanto o trovador quanto o pajador. No sul do Brasil e em nosso tempo o pajador canta seus versos no estilo recitado e não se acompanha musicalmente. Um músico de apoio executa a milonga para a pajada.

Segundo Alberto Juvenal de Oliveira, em seu Dicionário Gaúcho, o pajador é aquele que recita versos de improviso. O espanhol, doutor em filologia e catedrático da Universidade de Las Palmas de Gran Canária, Maximiano Trapero, define o pajador com a mesma grafia em seu livro La Décima Su História, Su Geografia e Sus Manifestaciones, como "Poeta improvisador en Rio Grande do Sul (Brasil)." Ele também define Pajada como "Nombre de la poesia oral improvisada em décima en Rio Grande do Sul (Brasil)."

A diferença maior entre o pajador brasileiro e o rio-pratense não está no surgimento desta arte para o novo mundo e sim no período de profissionalização do pajador e nos estudos feitos sobre este tipo artístico como um referencial nacional tanto para a Argentina quanto para o Uruguai, enquanto para o Brasil, regional.

O primeiro pajador urbano profissional que anda pelas duas margens do Rio da Prata é o argentino Gabino Ezeiza (19.02.1858 - 12.10.1916), por volta de 1880, conforme afirma o pajador e pesquisador argentino Victor Di Santo em seu livro El Canto Del Payador En El Circo Criollo.

Se lá recomeça por volta de 1880 com Gabino Ezeiza e aqui de 1958 com Jayme Caetano Braun (30.01.1924-08.07.1999), são 78 anos de uma distância que leva os menos avisados a crer que a pajada brasileira inexista.

Nascida da mesma fonte, há no Rio Grande do Sul a trova, forma mais popular de improviso. Possui três estilos, Campeira (Mi Maior de Gavetão), Martelo e Estilo Gildo de Freitas. Ela parece ter mais legitimidade, simplesmente por que é aceita oficialmente pelo tradicionalismo há anos, o que passa a acontecer somente em 2002 com a pajada. A diferença entre o pajador e o trovador brasileiro está na forma de expressão e estrutura rimática. O trovador canta seus improvisos em estrofes de seis linhas (ABCBDB) e acompanhado por acordeon e o pajador em décimas, por guitarra acústica (violão). Ambos se valem de um músico de apoio. Não executam seus instrumentos. O pajador e o trovador gaúchos possuem a mesma origem. Muda a nomenclatura e a forma rimática. A métrica é a mesma em heptassílabo.

Em vários países do mundo há repentistas com os mesmos anseios e um verso a cada instante, independente do nome. Todos somam para o movimento da poesia oral improvisada.
Alguns Repentistas:

Argentina:

Gabino Ezeiza - payador.
Jorge Alberto Socodatto - payador.
Lázaro Moreno - payador.
Marta Suint - payadora.
Roberto Ayrala - payador.
Suzana Repetto - payadora.
Victor Di Santo - payador.
Brasil - Sul:

Adão Bernardes - trovador e pajador.
Albeni Carmo de Oliveira - trovador e pajador.
Arabi Rodrigues - pajador.
Chico Vargas - trovador.
Crioulo Batista - trovador e pajador.
Formiguinha - trovador.
Gildo de Freitas - trovador.
Jadir Oliveira - trovador e pajador.
Jayme Caetano Braun - pajador.
José Estivalet - trovador e pajador.
Luiz Müller - trovador.
Moraezinho - trovador.
Pedro Jr. da Fontoura - pajador.
Portela Delavi - trovador.
Brasil - Nordeste:

Chico Nunes - cantador.
Lourival Batista - cantador.
Patativa de Assaré - cantador.
Chile:

Cecilia Astorga - payadora.
César Castillo - payador.
Eduardo Peralta - payador.
Lázaro Salgado - payador.
Manuel Sanchez - payador.
Pedro Yáñez - payador.
Cuba:

Alexis Diaz-Pimenta - repentista.
Ernesto Ramires - repentista.
Iran Caballero - repentista.
Manuel Garcia - repentista.
Espanha:

Geraldo Paez - poeta.
José Arevalo - poeta.
José Sotto - trovero.
Juan Moron - trovero.
Manoel Caballero - trovero.
Canárias:

Yapsis Vienes - verseador.
Yeray Rodrigues - verseador.
Itália:

Mauro Chechi - cantastorie.
México:

Antonio Garcia León - repentista.
Guillermo Vellázquez - repentista.
Panamá:

Arcadio Camaño - cantador de mejorana.
Antonito Vazquez - cantador de mejorana.
Porto Rico:

Isidro Fernandes - trovador.
Roberto Silva - trovador.
Uruguai:

Aramis Arellano - payador.
Carlos Molina - payador.
Gustavo Guichon- payador.
Gabino Soza - payador.
José Curbelo - payador.
Juan Carlos Bares - payador.
Juan Carlos Lopez - payador.
Juan Nava - payador.
Mariela Acevedo - payadora.

Fonte:Paulo de Freitas Mendonça (Jornal do Nativismo)
http://www.nativismo.com.br/mala_de_garupa.php


Agradeço ao Paulo por gentilmente ter cedido a este blog este interessante artigo sobre pajada e trova.



Para conhecer as letras e saber informações sobre as músicas do Gildo de Freitas acessem:

http://gildodefreitas.blogspot.com/2008/06/listagem-oficial-de-msicas.html

Para conhecer a trajetória pessoal e musical do Gildo de Freitas acessem sua Biografia:

http://gildodefreitas.blogspot.com/2008/06/biografia-do-gildo-parte-1.html

E não deixem de conferir também as brigas com Teixeirinha:

http://gildodefreitas.blogspot.com/2008/11/gildo-vs-teixeirinha-i.html


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