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sábado, 18 de abril de 2009

Poema Campeiro para Gildo de Freitas

A cerca de duas semanas recebi um e-mail do Gilmar Espindola (espindolagilmar@hotmail.com) da cidade de Viamão, pedindo para que se publicasse aqui no Blog Gildo de Freitas esse poema em homenagem ao Gildo de Freitas e aos trovadores.
Portanto está atendido o pedido e lembrando que o Gilmar Espindola está dedicando esse poema à dona Carminha Freitas, viúva do seu Gildo de Freitas.

Trova de Baitas


Vou lhes contar um caso
Que comigo aconteceu:
Já era de tardezinha
E logo anoiteceu;
Procurei abrigo
Embaixo de uma figueira,
Para da noite me proteger.
Como eu iria saber
Do que ia se passar?
E tranqüilo, com meus pensamentos,
Já que estava, ali, sozinho;
E a noite corria alta,
Me aparece um negrinho
Com uma cara de peralta,
Esquisito, de uma perna só,
E fumando um cachimbo estranho.
Logo foi me avisando
Que no lugar onde eu estava
A noite nunca parava,
Era mais movimentado
Do que estação de trem.
E que ali ninguém,
Que vivo estivesse,
Parava um só instante,
Pois. então. daí por diante,
Lhes conto agora o que ouve.
Depois, que o negro foi embora.

Não dei muita bola,
Pois ninguém me enrola.
Achei que era sacanagem
E acendi o meu paieiro.
Foi quando percebi
Um vulto em minha direção,
Tinha uma gaita num braço
E no outro um violão.
Sentou-se, ali, do meu ladinho,
Foi pegando o meu fumo
E fazendo um enroladinho.
E depois de uma bela tragada,
Soltando uma baforada,
Sem sequer me olhar me informou
Que ali onde estávamos
Há muito fora marcada
Uma destas derradeiras trovas;
E eu prova viva seria
De toda aquela cantoria.

Bueno! que lugar pra se cantar,
Meio deserto, pensei.
Decerto outra brincadeira.
Nisto, lá adiante, na porteira
Começou a chegar gente;
Vinham de todos os lados,
A se assentar em nossa frente.
Logo percebi um detalhe,
Que me deixou todo cabreiro,
Seus andares pareciam de mancos,
E todos vestidos de branco.
E pra não sair em disparada,
Imaginei que fosse combinada
A indumentária usada
Para aquela reunião.
Aí prestei mais atenção
Em outro detalhe muito esquisito:
Seus rostos não tinham feições,
E mesmo assim eram muito bonitos.

De repente ouvi um grito,
Que parecia que vinha lá do infinito.
Era o primeiro trovador chegando;
Pegou o violão e logo foi afinando.
E o outro chegou, no mesmo instante,
Todo radiante, aquele baita;
E se grudou na tal da gaita
E dedilhou uma sinfonia.
Que bonita melodia
E que qüera original!
E o outro bagual,
O tal do violão,
Me solta um mi maior de gavetão,
Que fiquei impressionado.
Que presente abençoado
Aquela bela ocasião!

Aí se aprontaram
Com seus instrumentos,
Um de cada lado.
Quando o da viola tocou,
O seu peito entoou
O seguinte verso, improvisado:
“Esta trova eu esperei
Calmamente, meu guri.
Por isso estou aqui,
Para ver do que és feito.
Mas sei que tu, sujeito,
Não vai dar nem pra saída.
E quero ver a tua ida
Mas cedo do que tu pensas.
E nem a recompensa
Terás daqui para a frente,
E vê se vais logo embora,
Ó criatura impertinente”!

O da gaita nem se incomodou
E começou seu repertório:
“Criatura impertinente
És tu, ô rato pequenino.
Trova é coisa de gente grande,
Mas antes que tu ande
Eu vou te dar um bom conselho:
Por causa do teu tamanho,
Que é de um fedelho,
És metido a cantador,
Passou a vida mentindo
E no rádio sempre grunindo,
Enrolando o expectador,
Volte pro teu lado do céu,
É o melhor que tu me faz;
Aqui eu é que sou o ás
E síndico deste bordel”!

Bah! pelo início da trova
Eu fiquei estarrecido.
Eu já tinha conhecido
Dois bacanas igual a eles:
Um era o do coração de luto
E o outro aquele dos passarinhos,
E em todos os meus caminhos
Sempre escutei eles com atenção;
Pra mim sempre foram campeões,
Os dois tinham o mesmo brilho,
Mas cada um tinha o seu estilo
Marcado por seus voseirões.

E aí, meus amigos,
Seguiram trovando
Por toda a madrugada.
Pareciam dois espadachins,
Num duelo de vida e morte.
E para a minha sorte,
Eu fui testemunha deste fato;
E lá, no meio do mato,
Quem diria, eu testemunharia
Este imenso espetáculo.

Mas como já estava amanhecendo,
Resolveram terminar outra noite.
E antes que o sol os açoite,
Se abraçaram sorridentes.
E junto com os outros presentes,
Se foram não sei para onde,
Só sei que pegaram um bonde.
E a impressão que me deu,
Pois já estava meio dormindo,
É que o bonde ia subindo,
Em direção ao céu estrelado.
Meio complicada aquela saída;
Resolvi dar uma dormida
E me virei pro outro lado.

Depois que acordei,
Parecia até que eu tinha sonhado.
Foi quando eu achei um papel,
Com tudo da trova anotad0.
E nele tinha um recado
Me pedindo pra divulgar
A trova daquele lugar,
Meio estranha, por sinal.
Mas, depois, quando eu tiver tempo,
Ou a qualquer momento,
Escrevo para vocês
Este meio final,
Porque ficaram de voltar
Para a trova terminar,
Os dois fulanos de tal.

E, agora, por onde eu ande
Sempre escolho uma figueira,
Para poder me abrigar.
E ainda espero eles voltar,
Mas vai depender da sorte;
E nas noites de céu estrelado
Eu fico cuidando pro norte,
Pois foi o rumo que tomaram
Depois daquela apresentação.
Tenho certeza que voltarão
E isto me anima a mente.
E quando noto uma estrela cadente
Me salta o coração,
Pois aquelas duas feras vieram
Neste tipo de condução!

Autor: Gilmar Espindola

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom